Instituto lança ‘Observatório Cidade Integrada’ no Jacarezinho

O Instituto de Defesa da População Negra (IDPN) lançou nesta segunda-feira (14) o Observatório Cidade Integrada, após moradores do Jacarezinho afirmarem que sofrem constantes abusos dos policiais que ocupam a comunidade desde o dia 19 de janeiro.

“O observatório visa resguardar e fazer valer os direitos coletivos dos moradores da comunidade durante a execução desse projeto do governo. Além de ser um canal de denúncia de eventuais violações de direitos individuais, de domicílio, violações físicas, executados por esses agentes do Estado que estão no território”, explica o coordenador executivo do IDPN, Joel Luiz Costa.
Ainda de acordo com Joel, além de trabalhar na garantia dos direitos da população local, o Observatório Cidade Integrada também pretende gerar dados sobre a atuação do Governo e usá-lo em análises e críticas à atuação pública na comunidade.

“Nosso objetivo não é a responsabilização do tenente A ou sargento B, o policial é um instrumento menor na execução de uma política de poder e controle que é muito maior que ele. Nós queremos reforçar que esse tipo de ação, enquanto estratégia de segurança pública, além de ser um fracasso, é um projeto violento e violador com toda uma comunidade”, afirma.
Um morador do Jacarezinho que prefere não se identificar, por medo de represálias, afirma que, para a população da comunidade, é mais importante que exista um grupo independente acompanhando e analisando as ações do projeto Cidade Integrada do que a presença de alguns órgãos públicos de fiscalização.

“A Defensoria Pública vem aqui, mas vai embora depois. A Corregedoria da polícia, a gente sabe como funciona. Quem é que vai denunciar o policial pra própria corporação? Eu me sinto mais seguro tendo organizações daqui de dentro lutando pela comunidade e espero que, com isso, diminuam os casos de abuso que a gente tem visto acontecer toda hora.”

O Observatório Cidade Integrada é construído pelo IDPN em parceria com a Associação dos Moradores do Jacarezinho, a Iniciativa Direito a Memória e Justiça Racial, a Associação de Juízes pela Democracia, o Lab Jaca, a Rede de Observatórios, a Casa Fluminense e GRESS Unidos do Jacarezinho.

Denúncias recorrentes
Yago Corrêa, de 21 anos, deixou a prisão nesta terça-feira (8), em Benfica, na Zona Norte do Rio, após passar duas noites encarcerado por um crime que não cometeu. O estudante foi preso no último domingo (6), por policiais militares no Jacarezinho, Zona Norte do Rio, no momento em que havia saído para comprar pão.

As denúncias de abusos por parte dos policiais que ocupam a comunidade do Jacarezinho têm sido recorrentes. No último dia 6, o jovem Yago Corrêa, de 21 anos, foi preso durante uma correria dentro da comunidade.

Na delegacia, segundo a irmã de Yago, policiais disseram para ela que nada foi encontrado com o jovem – e que de fato ele só teria sido preso porque correu. no despacho, o delegado encarregado pelo caso chegou a dizer que tudo levava a crer que ele estava “no Lugar errado, na hora errada”.

O jovem foi solto depois de dois dias preso, mas ainda terá que cumprir medidas cautelares até que seu caso seja julgado em definitivo

O estudante de direito Felipe Gomes, de 24 anos disse que foi torturado e ameaçado de morte por policiais militares do Batalhão de Operações Especiais (Bope).

Um casal acusa policiais de arrombar a casa que moram e roubar R$ 1 mil, separado para o aluguel.

26 dias de ocupação

No próximo sábado (19), o projeto Cidade Integrada completa um mês de ocupação nas comunidade do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio, e da Muzema, na Zona Oeste.

As duas favelas foram escolhidas como modelo para o novo projeto de ocupação social de comunidades, uma espécie de reformulação do programa das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), criado em 2008.

A ação começou pelo Jacarezinho, com 1.200 homens, onde em maio de 2021 uma operação policial terminou com 28 mortos, a mais letal da história do estado. A comunidade é dominada por uma facção do tráfico de drogas.

Logo após, outro efetivo foi para a Muzema, sub-bairro do Itanhangá, na Zona Oeste do Rio, subjugado pela milícia. A região é a mesma onde dois prédios irregulares desabaram matando 24 pessoas em 2019.

Matéria publicada originalmente no site do G1. Imagens: Reprodução/ TV Globo


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